Os altos preços dos insumos e os efeitos da seca são fatores que contribuem para a redução do rebanho e a pouca oferta do produto
Os pecuaristas dos Estados Unidos da América (EUA) começaram a reduzir os rebanhos de gado, por causa da seca e os altos custos de alimentação. A decisão vai afetar a oferta aos frigoríficos pelos próximos anos, segundo economistas, e consequentemente isso vai apertar o orçamento familiar nos EUA.
A empresa americana de carnes Tyson Foods Inc (TSN.N), que já divulgou lucros abaixo do esperado esta semana, vai pagar mais caro pelos animais justamente por causa da pouca oferta para o abate. A industria também está pagando mais caro pela mão de obra, combustível e outros itens. As despesas, obviamente, são repassadas ao consumidor final.
O preço dos grãos registrou baixa nos Estados Unidos depois da invasão da Rússia à Ucrânia. Mas segundo economistas, no atual cenário, a diferença para o consumidor vai ser pouca por causa do aumento das outras despesas da cadeia produtiva. “Há realmente muita distância entre o preço desses grãos e o preço desses produtos no balcão de carne”, disse Bernt Nelson, economista da American Farm Bureau Federation.
Segundo a agência Reuters, os preços futuros do milho caíram 26% desde que atingiram uma alta de 10 anos, em abril, depois que a guerra na Ucrânia provocou preocupações sobre a oferta global. Os preços mais baixos beneficiam os produtores de gado, mesmo assim os dados do governo dos EUA mostram que os pecuaristas, em 1º de julho, já haviam reduzido o rebanho de gado do país em cerca de 2% em relação ao ano anterior. O nível é o mais baixo para essa data em cerca de sete anos. “Os produtores provavelmente liquidarão ainda mais gado devido à seca”, disse Shane Miller, presidente de carnes frescas da Tyson Foods, em uma teleconferência após os resultados trimestrais.
O presidente-executivo, Donnie King, projetou que os preços do gado e da carne bovina aumentarão em 2023 e 2024, mas isso não quer dizer aumento de lucro. A Tyson informou que as margens operacionais ajustadas da unidade de carne bovina caíram para 10,2% no trimestre de abril a junho, de 12,7% no trimestre anterior e 22,6% no ano anterior, enquanto os custos do gado vivo aumentaram cerca de US$ 480 milhões. As margens vão cair ainda mais para 5% a 7%, segundo a empresa.
Glenn Brunkow, fazendeiro que cria gado e ovelhas em Wamego, Kansas, é membro do conselho de administração do Kansas Farm Bureau. Segundo ele, os altos preços do diesel e da ração continuam elevando os custos de produção. Recentemente, o fazendeiro pagou cerca de US$ 475 por tonelada por ração para ovelhas feita com milho e outros ingredientes, um aumento de 40% em relação ao ano anterior.
De acordo com a Agência Reuters, segundo executivos de frigoríficos, alguns consumidores estão mudando para frango ou tipos mais baratos de carne bovina para reduzir os custos familiares com alimentos, mas estes tipos de alimento também começaram a registrar alta. A Tyson disse que os preços de frango subiram 20,1% no último trimestre, em relação ao ano anterior. Enquanto isso, os preços no atacado dos ovos brancos atingiram um recorde de US$ 3,40 a dúzia, em 21 de julho, devido à forte demanda no varejo e aos surtos de gripe aviária que mataram galinhas poedeiras, disse a empresa de dados Urner Barry.
Em Eugene, no Estado de Oregon, no extremo sul do Vale do Willamette, a estudante de contabilidade e mãe Blair Hickok, de 40 anos, disse que a conta familiar mensal de supermercado aumentou 40%, para mais de US$ 1.200, devido ao aumento dos preços de carne bovina, frango, ovos e produtos como salsichas. A família dela parou de comer fora para economizar. “Não podemos sustentar isso por muito tempo”, disse Hickok.
Com informações da Agência Reuters